DESCRIÇÃO DA FREGUESIA DE NUMÃO EM 1874

In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal

Freguesia (e antiquissíma vila), Beira-Baixa, comarca e concelho de Vila Nova de Foz Côa (foi antigamente do concelho de Freixo de Numão, comarca da Pesqueira), bispado a 50 quilómetros de Lamego, 350 ao N. de  Lisboa, 150 fogos. 

Orago, Nossa Senhora da Assunção. 

Distrito administrativo da Guarda. 

Situada em lugar muito alto e forte, pelo que também se chama Monforte.

(No foral que D. Fernão Mendes de Bragança e seus filhos deram á cidade de Nomam, em 1130 (como fica dito a pag. 246, col. 2ª, do 3º vol.) se diz dela, cognomento Monforte.)

É cercada pelo Douro e Teja, aquele pelo N. e este pelo E. (Vide Teja, rio.) 

Tem um castelo com 15 torres, de cantaria, tudo arruinado, e uma torre com seu relógio. 

É uma das mais antigas povoações da Península, como adiante direi. 

Foi povoação romana, gótica e árabe. 

Com as guerras que os irmãos D. Thedon (Theudo ou Thedo) Ramires e D. Rauzendo Ramires (filhos de D. Hermigio Albazar Ramires e de D. Dordia Ozores, e netos do infante, D. Alboazar Ramires (o Cid) e de D. Helena Godés, e bisnetos de D. Ramiro II, rei de Leão, e da formosa Zahara (Vide Ancora), Cabriz, Cale, Granja do Tedo, Paredes e Rezende), com as guerras, digo, que aqueles dois cavaleiros fizeram por estes sítios, desde 1030, aos mouros, estes abandonaram as suas povoações da margem esquerda do Douro, pelo que, daí a cem anos, achou D. Afonso Henriques e sua mãe, esta vila deserta, e a deram a D. Fernão Mendes de Bragança e a seus filhos, que nesse ano (8 de julho de 1130) a povoaram, e lhe deram foral, dando-lhe nele o titulo de cidade.

Este D. Fernão Mendes era genro de D. Teresa e cunhado de D. Afonso Henriques. 

Em 1285, o rei D. Dinis, reedificou e ampliou muito as antigas fortificações, ou, segundo outros, mandou construir tudo de novo, aproveitando os materiais das obras mouriscas. Dentro do castelo há uma notável cisterna de cantaria, de óptima água. 

Deu-lhe carta de confirmação do seu antigo foral, e a categoria de vila, nesse mesmo ano de 1285.

No primeiro foral d'esta vila (o de Fernão Mendes) depois de dizer "O homem que deixar sua mulher, peite um coelho ao juiz (!)—continua—Et si aliquis quescierit revelare illa mulier ad suum maritum quantas notes iluc revelaverit, tantos CCC (300) sol. (soldos) pectet ad suum maritum, et ad Palatium. 

Este revelare, deve entender-se pelo ajuntamento da mulher com o homem; porque na Sagrada Escritura se emprega vaárias vezes o termo — revelare turpitudinem, no mesmo sentido. 

Consta que já no tempo dos romanos foi praça de guerra, e um dos seus principais presídios. 

As muitas medalhas romanas, de ouro, prata e cobre, que no seu castelo e vizinhanças se têm achado, o provam plenamente. 

Parece que esta povoação é mais antiga do que o domínio dos romanos na Lusitania, porque já no tempo (deles se chamava Naumam, palavra da antiga língua hispânica, que significa cidade ou povoação fortíssima, edificada sobre escarpados rochedos. 

Não erá só a este castelo que se dava o nome de Naumam. No testamento de D. Flâmula (Chama, em português) feito em 960 (Livro 1º de D. Mumadona, de Guimarães, fl. 7) a várias fortalezas edificadas sobre rochedos se dava o mesmo nome, que era genérico; porém Numão, era assim chamado por excelência, ao que parece. Naquele testamento, se designam com o título de Naumans, os castelos de Langobria (Longroiva) Pena de Dono (Penedono) Semorzelli (Cernancelhe?) e outros. (Vide Langroiva). 

No foral de D. Fernão Mendes de Bragança, dado aos povoadores de Numão, expressamente se diz, Civitate Nomam, cognomento Monforte. Vê-se, pois, que Monforte é sinónimo de Naumam. Na carta de confirmação de foral, que à vila deu o rei D. Dinis, lhe conserva o nome de Monforte. Em 1145, o mesmo D. Fernão Mendes, tendo povoado o castelo de Langroiva, entre Marialva e Numão, o doou aos cavaleiros do Templo. Desde antes de 1130, até depois de 1145, era Numão, Penadono, Langroiva, Marialva, e todas as mais igrejas dentre o Côa e o Távora, do arcebispado de Braga. (Mon. Lus., V., fl. 174.). A falta de bispos em Viseu e Lamego, fez com que se alargassem os limites do arcebispado de Braga, e do bispado de Coimbra, sem atenção ás antigas demarcações. 

Até ao fim do século XII, se acha sempre esta vila denominada Monforte, ou Numão. Depois, decaindo esta povoação, e prosperando o lugar do Freixo, se começou este a chamar Freixo de Numão, tomando por armas uma mão estendida ao alto, debaixo de uma coroa imperial, entre um N. e um E, que quer dizer Nemão. Saindo do castelo para a vila, pela porta que está ao O., se vê uma pedra embutida no muro, do lado direito, que diz: INCEPIT TURREN IN E M.CC.XXVII (1189 de J. C.). Ao entrar pela porta travessa, que está ao N. da Igreja matriz da vila de Numão, se vê uma pedra quadrada, que tem ao alto uma pia de água benta, e na frente esta inscrição: TI. CLAUDIUS. SANCIVS. EQ. CHOR. TIT. LV SITANORVM. DIS. DEABVSQ. CONIVMBRIC. S. L. M. Parece ser uma memória, que Tito Cláudio Sanches (ou Sancho) cavaleiro da corte Ticia, dos lusitanos, consagrou aos deuses e deusas de Conimbriga, (Condeixa Velha.) No circuito do vetusto castelo, e nos seus muros, se vêem muitas inscrições romanas e milhares de sepulturas, também com inscrições, nas suas tampas; o que induz a crer que era aqui a famosa Numancia, ou, pelo menos, uma cidade importantíssima da antiguidade.

Em 1238, deu o concelho de Numão, a Dom Abril, uma grande herdade, entre Cedaví, Muxagata e Langroivo, ut faciatis ibi moratam, et pousatam, e o fizeram seu vizinho, pro adjutorio, et defensione quam vobis facitis, et promittitis facere. Em 1242, deu o mesmo concelho, ao dito D. Abril; o campo da Touça, ou Granja da Touça, sob a mesma condição. Vindo depois esta propriedade à coroa, o rei D. Dinis a deu ao mosteiro de Tarouca, pela terça parte da villa de Aveiro. Os frades de Tarouca, emprazaram depois o tal campo da Touça, por 360 alqueires de trigo, ou 36$O00 réis em dinheiro, que vinha a ser a 100 réis o alqueire.

No logar de Arnozélo, termo de Numão, mas em território da freguesia de Custóias (vol. 2., pag. 461, çoíl 2ª) está a capela de Nossa Senhora da Ribeira, junto a uma quinta também chamada de Arnozéllo. Fica a uns 200 metros da margem esquerda (S.) do rio Douro, era frente do famoso (e temeroso) ponto chamado do Cachão, e a 42 quilómetros de Lamego. 

A sua lenda é a seguinte: apareceu (em 1585) a um homem muito virtuoso, chamado Cipriano Rodrigues, natural e morador da vila de Numão, casado com Catarina Francisca, em primeiras núpcias; em segundas, com Isabel Afonso; e em terceiras com Maria Antunes. A Senhora lhe mandou, que lhe edificasse uma ermida, designando-lhe ela o sitio. Queria o bom do homem cumprir imediatamente a ordem; porem a 1ª mulher se oppôs, pretextando a grande pobreza em que viviam, e que a aparição seria alguma ilusão diabólica. Nessa noite, acordou Cipriano, e viu a casa cheia de luzes, e ouviu uma voz que falava. Acordou a mulher, que ouviu distintamente estas palavras; Cipriano, não temas, faz a minha igreja, junto ao lugar de Arnozélo, onde te assinei, e eu te serei propícia. A mulher, à vista disto, não fez mais oposição, convindo logo na edificação, a que imediatamente se procedeu. Como eram muito pobres, nem todos os seus haveres chegavam para construir os alicerces; mas tanta fortuna lhe deu a Senhora, que pôde concluir a obra; e aumentando-se-lhe as felicidades nos seus negócios, veio a morrer bastante rico, deixando a seus filhos uma boa herança. Quando deu principio à obra, tinha um pouco de pão em uma dorna, e algum vinho em uma pipa, e tirando de um e outro género, para a sua família e para os operários da capela, nunca até ao fim da obra sentiu diminuição nas suas provisões. Em 1590, estava a capela concluída, como se vê em uma pedra, sobre a porta principal (do lado de fora) que diz: A CYPRIÃO RODRIGUEZ, QUE MANDOU FAZER ESTA OBRA, NO ANNO DE 1590, APPARECEU NOSSA SENHORA, SANTA MARIA DA RIBEIRA. Mais adiante estão três letras, que se julga serem as iniciais do nome do mestre pedreiro, que fez a obra. Na cruz do remate do campanário, que fica à entrada da igreja, e no qual estão dois sinos, está outra inscripção que diz: EM 1597 ME FEZ 0 MESTRE JOÃO LOURENÇO TRIGO. No retábulo da capela-mor se lê: FOI FEITO EM 1613. Mandou o fundador fazer logo a imagem da padroeira da sua capela, e pouco tempo depois se instituiu uma irmandade, com cinco jubileus perpétuos, concedidos à casa da Senhora, os quais se ganham em vários dias do ano, nas festividades da mesma Senhora. Teve um capelão permanente, com residência, cerca e fonte, junto à igreja. Junto à capela há casas para abrigo de romeiros, que afluem aqui, em grande quantidade. Pelos anos de 1640, estando em mau estado as paredes do templo, as mandou reparar e ampliar, o bispo de Lamego, D. Miguel de Portugal, da casa dos condes de Vimioso, e que foi embaixador extraordinário, por D. João IV, na cúria romana. É tão ampla esta igreja, que muito bem podia servir de matriz a uma grande vila. No retábulo da capela mór, está o retrato do bispo D. Miguel de Portugal. 

Cipriano Rodrigues, fez o seu testamento em 1591, que foi aprovado a 19 de maio de 1592. Deixou parte de seus bens à igreja de Nossa Senhora, para, pelos rendimentos se continuarem as obras, com reversão para seus herdeiros, findas elas. Impôs aos capelães o encargo de cinco missas anuais e um responso, que poucos anos se cumpriu, apesar de ser tão limitado, e de ser o testador que lhe deu as casas, cerca e fonte, que desfrutavam. O fundador, foi sepultado na iegreja, em frente do altar da Senhora. É esta imagem de muita devoção destes povos, e às suas romarias concorre gente de muitas léguas de distância. Também no termo de Numão, está a Capela de Nossa Senhora do Viso, edificada em tal situação, que a sua capela-mor fica no termo de Numão, na fregueszia de S. Pedro, e o corpo da mesma igreja, no da vila de S. João da Pesqueira. É uma ampla igreja, com altar mor e dois laterais. Já a pag. 461, col. 2ª, no fim, do 2.° volume, tratei d'esta notável capela, e do seu estado actual; mas aqui, acerescento mais o seguinte: A sua antiga torre dos sinos, denotava uma remotíssima antiguidade, e parecia ter sido originariamente construída para torre de almenára ou atalaia, dos antigos lusitanos ou dos romanos. Esta capela está 2 quilómetros ao S. 0. da freguesia de Custóias (e por isso a descrevi ali) mas estava anexa á freguesia de S. Pedro de Numão, e unida ao mestrado da catedral de Lamego, mas incorporada hoje na freguesia de Nossa Senhora da Assunção, da vila de Numão. A sua festa é no dia da Natividade da Senhora, a 8 de setembro. Antigamente pela Páscoa da Resurreição, iam visitar a casa da Senhora, todas as freguesias dos lugares circunvizinhos, e os povos, unidos com os seus respectivos párocos, aí entravam de cruzes alçadas. A mesma visita faziam nos sábados da quaresma. Nada se sabe quanto á origem desta capela, senão que é antiquissima. 

De propósito guardei para o final deste artigo, as notícias sobre a famosíssima cidade de Numância, por ser a parte mais importante dele; e porque o povo d'estes sítios, e com ele muitos escritores, sustentam que Numão é corrupção de Numancia, e que aquela está fundada sobre as ruínas desta. Quatro são as opiniões que há, com respeito â situação de Numancia. A 1ª  diz que esta cidade era onde hoje se vê o Castelo de Numão; a 2ª diz que era a cidade hoje chamada Zamora; a 3º diz que era a actual cidade de Sória; a 4ª sustenta que ra no sitio onde agora está a pequena aldeia chamada Puente de Garay, pouco acima de Sória. Notemos, porém, que nas Espanhas houve três cidades com o nome de Numancia (provavelmente, porque, como já disse, era genérico, e aplicado às povoações fortes, fundadas em sítio pouco acessível, e sobre rochedos.) A 1ª foi a antiquíssima e famosa, pela resistência que fez aos romanos, preferindo os seus habitantes morrerem (como os de Sagunto) a capitularem, e pelo que, conseguindo o grande Cipião conquistá-la, a arrasou pelos fundamentos. Orósio, no Livro 15.°, cap. 7º, dos Arevacos, situa esta cidade na raia da Celtiberia no país dos arevacos, ou muito próximo deles, e da sua mesma raça. Rotogenes Numantino, dizia a estes povos - Numantinis consaguineis ipsorum opem ferre nom recusarent — (que não recusassem dar socorro aos numantinos seus parentes.) Estava perto da cidade de Hermes ou Thermes, segundo diz Appiano, e confinava com o país dos lusões. Também estava próximo dos váceos, como diz Orosio. Junto a Numancia passava o rio Douro, e a cidade estava edificada sobre um outeiro; o seu território era cortado por dois rios, e os numantinos navegavam pelo Douro; e estava cercada de montanhas. Isto consta dos escritores citados. 

A 2ª Numancia, também era uma cidade muito antiga, e já existia no tempo de Estrabão, de Ptolomeu, e do imperador Antonino Pio; pois todos eles a mencionam; mas era mais moderna do que a 1ª—pois sendo esta arrasada por Cipião, não podia ser a segunda, visto que este famoso capitão, viveu muitos anos antes daqueles três escritores. Plínio, que também fala de Numancia, certamente alude a esta 2ª, pois lhe dá as seguintes confrontações: estava a 25 léguas de Zaragoça, entre Voluce e Augustobriga,no caminho de Astorga para Zaragoça, pela Cantábria. Assim mesmo a marcam Estrabão e o Itinerário de Antonino. 

A 3ª Numancia, é a actual cidade de Zamora; o que se prova pela divisão dos bispados de Espanha, feita pelo rei Wamba.

D'estas três confrontações, facilmente se colige, que as da primeira quadram perfeitamente em tudo com as da actual vila de Numão; porém o padre D. Jerónimo Contador de Argote, nas suas Memórias de Braga, é de opinião que seja a terceira; e esta opinião seguem outros escritores, que se fundam na circunstância de não passar por estes sítios, nem mesmo por território algum das duas Beiras, o rio Tejo. Se fosse só esta a objecção, estava destruída pelos fundamentos; porque ninguém disse, senão por ignorância, ou por erro de cópia, que o Tejo confluía aqui com o Douro. O rio que passa perto de Numão, juntando-se a pouca distância com o Douro, é o Teja (ou Tera) que nasce nas visinhanças de Cedovim, e entra na esquerda do Douro, pouco acima de Numão.

Por sinal, que na foz do Teja, está a grande quinta das Figueiras, da srª. D. Antónia Adelaide Ferreira, viúva de

António Bernardo Ferreira (o Ferreirinha) casada em segundas núpcias com o sr. Torres, da Régua, e mãe da sra condessa da Azambuja e do sr. António Bernardo Ferreira, do largo da Trindade, do Porto). Esta quinta das Figueiras, é uma das melhores do Douro (senão a melhor). Antes do sidium tukeri, chegou a produzir 900 a 1.000 pipas de vinho superior, por ano, além de muito azeite, amêndoas, frutas, etc. Nesta quinta trabalham ás

vezes, simultaneamente, 500 operários. Tem espalhadas pela quinta, dez boas moradas de casas; e aos domingos e dias santificados, há aqui missas e um bom mercado. 

Há ainda outra objecção, que parece concludente, mas não o é. Se Cipião arrasou completamente a cidade de Numancia, como é que ela existe? Responde-se. Para se tomar ao pé da letra a palavra arrasar, era preciso que o lugar em que estava fundada a povoação, ficasse sem vestígios de um só muro, o que raríssimas vezes acontecia, nem os conquistadores têm tempo para fazer tanto. Mas, suponhamos que o general romano arrasou

tudo, sem deixar pedra sobre pedra, isto foi no ano 3796 do mundo, que são 208 antes do nascimento de Jesus Cristo (e portanto, há hoje 2083 anos). Não podia depois reedificar- se? Todos sabem que os romanos, os godos e os árabes, destruíram muitas povoações peninsulares, que depois reconstruíram. 

Já vimos no princípio deste artigo, que em 1130, estava esta povoação abandonada, e que depois, o rei D. Diniz reedificou o Castelo, ou aproveitou os materiais das antigas fortificações, para levantar as modernas. Concedamos que a cidade de Numancia foi literalmente arrasada, e que assim ficou até 1130 de Jesus Cristo, em cujo ano, D. Fernão e seus filhos a povoaram. 

Também se diz que o âmbito do monte não podia conter uma fortaleza, com capacidade para uma grande povoação, e para uma forte guarnição, como era preciso para resistir a um cerco de alguns meses (uns dizem três, outros cinco e outros sete) posto pelo mais bravo general romano desse tempo, com um exército aguerrido e disciplinado. É porque estes tais, não compreendem o que é amor da pátria e que prodígios de heroísmo ele nos leva a praticar.

Noto também, que, naqueles tempos, população e guarnição era uma e a mesma coisa; porque todos os lusitanos eram soldados sempre prontos para defenderem as suas terras e famílias. 

Não quero dizer, com tudo quanto fica ponderado, que era aqui incontestavelmente o assento da heróica Numancia; mas é certo que muitas circunstâncias concorrem para o supormos, com bons fundamentos.

Nem se diga que, pelo seu pouco âmbito, não podia em tempo algum ter sido isto considerado como cidade. Todos sabem ; e em várias partes desta obra tenho dito, que antigamente, e ainda, no tempo do nosso conde D. Henrique, se dava o nome de cidade, a uma circunscrição ou comarca qualquer; e muitas vezes a um simples castelo. (Vide Areja, a pag. 238, col. 1. do 1.° volume). 

Se Numão é a antiga Numancia, também esta não era mais para o N. ou para o S., mais ao E., ou ao O.; mas no mesmo lugar da actual— porque é aqui que se têm descoberto as antiguidades romanas de que falei, e a quantidade prodigiosa de sepulturas que se têm encontrado neste monte, induzem a crer que os romanos aqui permaneceram por longo tempo, e então, é obvio que eles reedificaram a cidade, ao menos em parte.

Finalmente, fosse ou deixasse de ser aqui a nobilíssima Numancia, é incontestável que este monte foi ocupado por uma importante e antiquíssima cidade romana, á qual se não conhece outro nome: mesmo porque, como fica dito, o nome de Naumam quadrava perfeitamente à actual Numão, assim como lhe quadra o de Monforte, por que também era nomeada, e que vinha a ser a mesma coisa.

Em todo o caso, o castelo, a vila e os arredores de Numão, mereciam bem ser vistos e estudados por um dos nossos ilustrados arqueólogos.


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