OS JUDEUS

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)

Em poucas povoações do nosso país se terão praticado tantos excessos, provenientes uns da odiosa distinção entre cristãos velhos e cristãos novos, ou pelo menos acobertados com ela ; outros provenientes da exaltação partidária; outros provocados pelo facciosismo e prepotência de certas autoridades, nomeadamente dos escrivães da fazenda, um dos quais, não há muito, determinou o povo a um levantamento em massa e a incendiar todos os papéis da recebedoria e da repartição da fazenda, salvando-se como por milagre o dito escrivão de ser trucidado e talvez queimado com eles!...

Nesta Vila viveu outrora grande número de judeus que a tornaram rica e florescente com o seu génio económico, laborioso e industrial.

Sofreu muito com a impolítica e bárbara extinção deles, bem como Vila Flor de Trás-os-Montes, Moncorvo, Gouveia da Beira Baixa, Covilhã, etc. (Veja-se este vol. 10.° pag. 732, col. 1ª).

Expulsos os judeus em 1496 e sendo depois os restantes concentrados em judiarias ou bairros próprios, aos desta Vila se lhes marcou o pequeno bairro do castelo e ainda hoje sobre os habitantes daquele bairro pesa o labéu de judeus, posto que, depois de extracta a odiosa distinção entre cristãos velhos e cristãos novos, passaram a viver onde muito bem lhes aprouve; e hoje os habitantes desta Vila são todos católicos sem distinção alguma, e sinceramente religiosos, como provam os muitos templos já mencionados e as festividades que neles se celebram.