DADOS HISTÓRICOS

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)

No Monte Meão houve uma importante povoação fortificada no tempo dos romanos.

Ali se vêm ainda hoje ruínas de largos muros, edifícios e fontes, principalmente onde chamam o Castelo Velho, sítio muito defensável para os tempos de armas brancas; e ali se tem encontrado muita pedra de esquadria, muitas moedas romanas e várias inscrições.

Não se sabe ao certo quando se fundou nem quando se extinguiu tal povoação, mas todos concordam que foi o gérmen e o núcleo desta Vila Nova de Foz Côa.

Supõe-se com todo o fundamento que, destruído o povoado do Monte Meão, os habitantes que sobreviveram se dispersaram pelos recantos vizinhos, formando diferentes povoações mais pequenas na Veiga, no Paço, no Azinhate, etc.

Na Veiga, ainda lá se vê a capela antiquíssima de Nossa Senhora da Veiga, que alguém diz fora paroquial, pois ainda nos fins do último século pagava a censuária ao cabido de Lamego, como as outras igrejas matrizes; e a pequena distância dela se tem encontrado em escavações ruínas de edifícios e sepulturas antiquíssimas soterradas.

Em uma delas, segundo se lê na História Eclesiástica de Lamego, se encontrou um esqueleto mui grande, inteiro, e uma estátua de jaspe branco, que parecia de mulher.

Acrescenta a mesma História, que «por ser o lugar doentio e acometido por tropa de facinorosos» fugiram os seus moradores para o planalto onde se fundou o Castelo e a Vila nova actual.

Também há memória de casas no sítio do Paço ou do Relento, cerca de 1.200 metros a leste da Vila, onde ainda hoje se veem os restos da ermida ou igreja de S. Vicente, que foi outrora paroquial também, e no sítio do Azinhate, junto da capela de Nossa Senhora do Amparo, bem como junto da antiquíssima capela de Nossa Senhora da Conceição, que foi do chantre de Lamego e também matriz, em cujo adro se encontram sepulturas. 

Supõe-se que todas estas e outras aldeias que existiram no termo desta paróquia se despovoaram por serem abertas e estarem expostas a serem roubadas pelos salteadores e saqueadas em tempos de guerra; que os seus habitantes foram procurar abrigo no Castelo e que, atraídos pelas vantagens que lhes ofereciam o Castelo e os seus três amplos forais, bem como pela beleza do local, em breve se desenvolveu ali uma povoação importante, que por isso mesmo se denominou Vila Nova.

Também dizem que, antes da fundação do castelo, as aldeias que nele se concentraram obedeciam â cidade de Numância, hoje Numão, simples paróquia deste concelho, que, ou fosse ou deixasse de ser a Numância dos romanos, foi com toda a certeza povoação antiquíssima muito importante e muito bem fortificada, distante cerca de 20 quilómetros de Vila Nova de Foz Côa, para oeste.

(Vd. Numão, vol. 6.° pag. 178—e a Hist. Eccl. de Lamego, pag. 175.)

É, portanto, muito antigo o povoado de Vila Nova de Foz Côa, pois antes de se fixar no ponto onde hoje se vê, esteve no Monte Meão e depois andou disperso por diferentes sítios do termo da Vila actual.

Que nós saibamos teve esta Vila os 3 forais seguintes:

Note-se que até os princípios do século XIV o reino de Leão confinava com o rio Côa. Foi el-rei D. Dinis que tomou aos leoneses tudo o que hoje é de Portugal desde o Côa até ao Águeda, pela margem esquerda do Douro. (Vd. vol. 7.° pag. 66.)

1.°—Dado por D. Dinis em Portalegre, a 21 de maio de 1299. Liv. IV de Doações do Sr. Rei D. Diniz, 

2.°—Dado pelo mesmo rei em Lisboa, no dia 24 de julho de 1314. Maço 8 de Forais antigos, n° 18.

3.°—Dado por D. Manuel em Lisboa, no dia 16 de junho de 1514. Liv. de Forais Novos da Beira fl. 126, col. 1. 

D. Dinis fundou e povoou Foz Côa, dando-lhe 2 forais; depois D. João I a elevou á categoria de Vila e por último D. Manuel mandou edificar a igreja paroquial.

É por isso que na frente da igreja e no pelourinho se veem flores de liz, emblema de D. João I, e a esfera armilar, emblema d'el-rei D. Manuel.

O Castelo não foi mandado fazer por D. Diniz. Foi feito muito mais tarde, talvez nos fins do século XV, pelos habitantes da nova Vila, à sua própria custa.

Quando rebentou a luta entre o nosso rei D. Afonso V e os reis de Castela, luta que durou desde 1473 até 1479, ainda o Castelo não havia sido feito, pelo que D. Afonso V, para determinar os habitantes de Vila Nova a construí-lo, lhes ofereceu o privilégio de não pagarem direitos de alcaidaria, como não pagava o Castelo de Freixo de Espada á Cinta; mas nem assim então se resolveram.

Parece-nos ser isto o que se depreende da Monarchia Luzitana, parte V, cap. 3.°fl 181, col. 2.


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