OS ARREDORES DA VILA

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)

Banham esta freguesia o Côa ao nascente, ao norte o Douro e ao poente o ribeiro do Vale, que tem a sua origem no monte Angrão, entre Vila Nova de Foz Côa e a freguesia de Santo Amaro, e desagua no Douro na Veiga, junto da barca e da estação do Pocinho.

Pelo leito deste ribeiro (credite posteri!) seguia a antiga estrada militar de Trás-os-Montes pela Barca do Pocinho para Vila Nova de Foz Côa e para a província da Beira, sendo intransitável, medonha e perigosíssima no inverno, pois por vezes a água atingia grande altura e se despenhava em caudalosa torrente, levando d'envolta para o Douro tudo quanto encontrava diante de si,não só no inverno, mas mesmo no verão e na primavera por ocasião de trovoadas.

Ali pereceram muitas pessoas; mas na maior parte do verão aquele ribeiro seca e a dita estrada é encantadora, porque o vale que atravessa é fundo, por extremo fértil, todo povoado de amendoeiras e sumagres nas encostas e de oliveiras na parte baixa, oliveiras como grandes castanheiros, majestosas, admiráveis, imensas, as maiores de todo o nosso país, e grandes faias e negrilhos ensombram e cobrem literalmente grande extensão da dita estrada, transformando-a em um bosque frondoso, suavíssimo, verdadeiro oásis no meio das candentes margens do Alto Douro, no verão.

Para se formar ideia do porte e majestade das ditas oliveiras, note-se que uma só ainda no último ano produziu 40 alqueires de azeitona. Está no sítio de Mariannes e pertence á família Carvalho, desta Vila.

No fundo da Costa, um pouco a montante daquela, se veem 4 oliveiras que são talvez as maiores do termo. Quatro homens dificilmente varejam cada uma delas era um dia de trabalho. São todas de um só pé; mas junto delas há uma formada por três pés, que as suplanta. Foi vendida, ainda há pouco, por doze libras, ou 54$000 réis! e há por ali muitas de 8 a 10 libras de preço?!...

É digna de especial menção também uma oliveira que existe no Vale, pertencente a António Mallavado. É formada por três pés, custou 50$000 réis—e tem produzido em um só ano sessenta rasas de azeitona, de 17 litros e meio cada uma! . ..

Também no termo desta paróquia se encontram oliveiras admiráveis em outros sitios, no Saião, Patões, Valverde, Vale do Abade e nas olgas (1) da Veiga, junto da barca e da estação do Pocinho e da famosa quinta do Reguengo.

Aberta á exploração alinhado Douro, de Tua até á Barca d'Alva, com alguns minutos de demora na estação do Pocinho, todos podem ver e admirar tão majestosas oliveiras e convencer-se de que não é fantasia, mas realidade, o que levamos exposto.

(1) Assim se denominam aqui e na ribeira a Vilariça as courelas ou sortes das campinas fundas e próximas do Douro


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