OS SUMAGRAIS

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)

Outrora em ambas as margens do Alto Douro havia muitos sumagrais, que constituíam uma indústria e um ramo de negócio importantes, mas, depois que o Marquês de Pombal criou a grande Companhia dos Vinhos, (veja-se o artigo Victoria) desenvolveram-se espantosamente os vinhedos nas duas margens do Douro e desapareceram quase todos os sumagrais.

Apenas aqui se conserva ainda aquela indústria, mas bastante decaída com o descrédito proveniente das contrafações, pois costumam adicionar ao pó do sumagre a poeira que no verão aqui abunda nas estradas públicas e que, por ser proveniente do xisto, tem a mesma cor do pó do sumagre, sendo muito mais barata e muito mais pesada; mas é tolice, porque os compradores já estão prevenidos e sabem dar-lhe o devido desconto no preço.

Andam, pois, os vendedores do sumagre carregados com terra sem proveito algum! Prevaleceu aqui a indústria da preparação do sumagre por 3 razões, já porque a demarcação feita nos terrenos das margens do Douro pela Companhia dos Vinhos não passava dos concelhos de Alijó e da Pesqueira, já porque os vastos montes e ladeiras do termo desta paróquia produziram sempre muito sumagre espontaneamente, já porque o sumagre do termo desta Vila foi sempre de 1* qualidade.

É o melhor de ambas as margens do Douro, pelo que ainda hoje, apesar das contrafações, é o que encontra venda mais fácil e obtém melhor preço.

Além dos sumagrais espontâneos que abundam no monte Meão, baldio, e nas ladeiras incultas, por entre o fragoedo, há aqui muitos sumagrais plantados de estaca nas ladeiras mais pobres de húmus e que se não prestam a outra cultura. 

Plantam-nos à enxada muito superficialmente e cavam-nos também muito superficialmente apenas de dois em dois anos, mas é tão vivaz a planta, que se conserva em boas condições de produção tempo indefinido!

Fazem a colheita com o maior desamor também.

Quando a planta atinge o seu maior desenvolvimento, cortam-lhe todas as hastes, deixando-lhe apenas as raízes que, decorridos anos, formam uma grande cêpa, á superfície da terra.

Conduzem aquela ramagem para o Campo da Feira; estendem-na ali ao sol sobre a terra, depois de mirrada é batida por manguais ali mesmo, e dali a levam para as atafonas, onde é moída e reduzida a pó.

As atafonas são actualmente 4 e estão todas no mesmo Campo da Feira, lado norte, montadas em humildes casas térreas.

São formadas, como os nossos antigos lagares de azeite, por um pio ou tanque circular, tendo a meio uma trave, firmada perpendicularmente, e presa a ela por um eixo uma grande roda de pedra, que tem cerca de 3 metros de diâmetro e 3 a 4 decímetros de grossura; trabalha perpendicularmente também é movida por uma junta de bois, em razão da falta de água para motor.

Cada pio tem uma roda sómente. No verão ultima-se cada piada em um dia, por estar o sumagre ressequido, mas no inverno demanda cada piada dois a três dias de moagem.

Costumam dar no verão pela moagem de cada piada 1$600 réis, sendo 1$000 réis para aluguel da atafona e 600 réis para o dono do gado.

Quando ali estivemos em 1881 regulava o preço de cada arroba do dito sumagre por 500 réis, mas há ali memória de se ter vendido a 1$200 réis, antes de se generalizar a contrafação.

No último ano (1884) a ceifa do sumagre produziu 154 piadas de 60 arrobas e regulou por 600 réis o preço de cada arroba. Apurou pois esta Vila em sumagre 5.544 $000 réis !. .

Costumam exportá-lo para Alverca (da  Beira) e para o Porto, e é gasto nas tinturarias e nos curtumes.

Outrora consumia-se também muito aqui na Vila nas fábricas de curtumes que houve nela, como já dissemos.

Além das 4 atafonas do sumagre há hoje nesta freguesia, na margem esquerda do Côa, 4 moínhos para moerem pão, com 16 rodas; no Douro 6 azenhas com 15 rodas, para moerem pão também e na Vila 6 moínhos para azeitona, movidos por bois.


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