Em 1708

  • Duas legoas da Villa de Nomão para o Nascente & huma da Touça, em sitio plano tem seu assento Villa Nova de Fozcoa com seu castello com duas portas, & huma torre de Relogio.
  • ElRey D. Dinis a mandou povoar na Fóz do rio Coa, do qual tomou o nome, & lhe deo foral pelos annos de 1299 estando no cerco de Portalegre contra o Infante D. Affonso seu irmao , que tinha em grande aperto aquella Cidade.
  • El Rey D. Joao o Primeiro a fez Villa,
  • a qual tem 60 vizinhos dentro dos muros, & 500 nos arrabaldes,
  • com huma Igreja Parroquial da invocação de N. Senhora do Pranto, Abbadia rendosa do Padroado Real,
  • Casa de Misericordia, Hospital,
  • nove Ermidas, huma dellas de N. Senhora da Veyga, situada nas margens do Douro, (aonde està a barca da Torre do Moncorvo) a qual imagem he de grandes milagres & a ella concorrem muitos Concelhos em Procissao na segunda feira depois da Dominga in Albis, 
  • Tem feira a 8 de Mayo, & a 29 de Setembro,
  • & a cercaõ dilatados campos, povoados de muitos olivaes, vinhas, & pomares , com abũdancia de trigo, cevada, & centeyo , & sumagre.
  • He do Conde de Villa nova de Portimao,
  • & do Bispado, & Provedoria de Lamego. 
  • Tem hum Ouvidor, dous Juizes ordinarios , hum dos Orfaōs com seu Escrivaō, dous Vereadores, hum Procurador do Concelho, hum Escrivão da Camera, dous Tabelliaens, dous Almotaceis cõ seu Escrivão, hum Alcayde & hum Meyrinho do Ouvidor.
  • Tem mais hum Capitão mór, & Sargento mór com duas Companhias da Ordenança, & huma mais dos Auxiliares, sugeitas à Praça de Almeyda

in Corografia Portuguesa


Em 1881

Vila, freguesia e sede de concelho e comarca, distrito da Guarda, diocese de Lamego, província da Beira Baixa.

Abadia. Orago Nossa Senhora do Pranto,

Fogos 806, habitantes 3.210 (O seu movimento paroquial no último ano foi o seguinte: batizados 145, casamentos 17, óbitos 169?!...)

Em 1708 contava 60 fogos dentro dos muros do seu castelo e 500 nos arrabaldes,

Era abadia do padroado real, tinha casa de misericórdia, hospital e 9 ermidas,

Feiras a 8 de maio e 29 de setembro.

1 ouvidor, 2 juízes ordinários, 1 dos órfãos com seu escrivão, 2 vereadores, 1 procurador do concelho, 1 escrivão da câmara, 2 tabeliães, 2 almotacéis, 1 capitão-mór, 1 sargento-mór com 2 companhias de ordenanças e 1 companhia de auxiliares que obedecia á praça de Almeida.

Era dos condes de Vila Nova de Portimão, dos quais adiante falaremos.

Em 1768 era também abadia do padroado real; contava 581 fogos, e rendia para o seu pároco 300$000 réis.

A História Eclesiástica da cidade e bispado de Lamego, escrita em 1103 fins do último século por D. Joaquim de Azevedo, cónego regrante de Santo Agostinho e abade reservatório de Cedovim, e publicada em 1877, dedicou um belo artigo a Vila Nova de Foz Côa e lhe deu 862 fogos com 3.268 habitantes e 600$000 réis de rendimento.

Esta vila demora na altitude de 439 metros sobre o nível do mar, em um amplo, vistoso e alegre planalto, na margem esquerda do rio Côa, do qual dista 3 quilómetros para 0., 5 da foz do Côa (da qual tomou o nome) e da margem esquerda do Douro, para S. O., 9 da barca e da estação do Pocinho, pela estrada nova, para S. E.—22 de Moncorvo, pela barca do Pocinho, para S. O., 24 da Barca de Alva, para E. 0, 70 da Guarda, 81 de Lamego, pela linha férrea do Douro, 173 do Porto e 510 de Lisboa.

Esta paróquia é formada pela vila do seu nome, povoação compacta e única. Não compreende aldeias, mas somente 75 fogos na Veiga, junto da barca e da estação do Pocinho, onde tem duas tavernas e vários casais e quintas, entre as quais avulta a do Reguengo, hoje a 1ª desta paróquia e deste concelho, pela sua extrema fertilidade e grande produção de vinho. Adiante lhe daremos o lugar de honra que merece.

Tem a Vila os largos seguintes: do Tabulado, onde se fazem os mercados, da Conceição, junto da capela deste nome, a Praça em frente do tribunal, e o Campo de S. Miguel ou da Feira, o mais espaçoso de todos, cercado a leste pela Vila, a norte pelas atafonas do sumagre, a sul pela rua de S. Miguel com bons edifícios, entre os quais hoje avulta a escola feita com o subsídio do conde de Ferreira, e a poente pelo cemitério, ficando a meio do dito campo a lagoa.

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)


Esta Vila é a povoação compacta mais populosa que se encontra em toda a margem esquerda do Douro desde o mar até à Espanha, exceptuando unicamente Lamego e Vila Nova de Gaia.

Tem bons edifícios e bons proprietários, muito comércio, ruas bem calçadas, embora estreitas, um espaçoso campo, indústrias diferentes, feiras importantes, um lindo cemitério, hotéis razoáveis, etc., mas tem dois grandes contras: muita falta de água e de arvoredo.

Como está em um planalto, cujo subsolo é xisto e só a grande distância se erguem elevações superiores, a Vila, sendo tão populosa, não tem uma única fonte de bica, mas somente poços e charcos, sendo quase toda a água deles salobra.

A sua água potável reduz-se quase exclusivamente à do charco ou poço coberto, denominado Fonte Nova, contíguo á capelinha de S. Pedro, a leste da Vila, fonte que nos anos mais áridos seca e obriga a população a ir dessedentar-se na fonte da Flor da Rosa, ou de S. Bibre, distante 2 a 3 quilómetros para oeste, ao sul do caminho da Pesqueira e da Mêda.

Também não tem água para rega, exceptuando a de alguns poços, que extrai com dificuldade e por isso no verão a Vila é de uma aridez extrema! . .

Não tem bosques, ribeiros, alamedas, matas, soutos, pinheirais nem pomares e, como a produção dominante dos seus arrabaldes é o trigo, colhido este, fica o restolho, como sucede no Alentejo e em volta de Madrid, vomitando fogo durante o rigor da estiagem.

Tem muitos bois para carretos e serviço da lavoura e muito gado asinino e muar para transportes e serviço da lavoura também; todo o gado porém bebe quase exclusivamente água de uma lagoa que por absoluta necessidade formaram no Campo da Feira, aproveitando a depressão de uma zona de xisto que se inclina para N. E. e construindo desse lado um muro para represa das águas pluviais que ali se conservam todo o ano batidas pelo sol, estagnadas, esverdeadas e podres,  formando um terrível foco de infecção!

Na dita lagoa, cuja altura máxima é de 2,50 m., entram e se banham e bebem os bois, os porcos, as cavalgaduras e todos os outros animais (1). A sua água é tão limpa ou tão imunda, que só os animais da Vila, criados com ela, a bebem. Os de povoações estranhas nem lhe tocam!

E é a lagoa, este grande foco de infecção, a providência da Vila, pois quando seca, o que sucede muitos anos no fim do verão, veem-se na necessidade de ir buscar em pipas água ao Douro, distante 5 a 6 quilómetros, para entreterem a existência dos seus gados, e quando a estiagem se prolonga emigram com eles para as margens do Douro.

Se de outra qualquer forma pudessem abastecer a Vila de água, a primeira coisa que deviam fazer e que por certo fariam, era arrasar a lagoa, porque é um viveiro de sezões, um manancial de peste! . .

(1) Ali se banham e nadam também no verão centenares de crianças da Vila? I …


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