AS CAPELAS

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)

As capelas que hoje existam nesta paróquia são as seguintes: 

1. - Senhora da Veiga, no sítio deste nome, junto do Douro e da barca e estação do Pocinho, bem tratada e bem conservada, posto que muito antiga, pois já o padre Carvalho a mencionou, dizendo que a ela concorriam muitos concelhos em procissão na 2ª feira depois da dominga in Albis. Outrora foi matriz de uma das povoações que se concentraram na Vila actual, e ainda hoje tem festa e grande romagem no dia 8 de setembro na sua capela, feita com as esmolas dos devotos por uma comissão nomeada pela junta de paróquia. Costumam também os lavradores fazer-lhe grande festividade na igreja matriz, com procissão,

2. - S. Sebastião, também muito antiga e bem conservada, cerca de 400 metros ao norte do cemitério, á direita da estrada nova do Pocinho. Tem festa feita pelos sapateiros.

3. - Santo António, hoje dentro do cemitério da Vila, a O. do Campo da Feira e muito bem tratada. Tem altar mor e dois laterais, e festa anual, feita pelos cordoeiros, com procissão, e até 1865 (aproximadamente) tanto no dia desta festividade como das outras da Vila costumavam correr touros, criados no Monte Meão.

4. - Senhora da Conceição, muito antiga e em mau estado, dentro da Vila, no largo do seu nome, que é povoado quase exclusivamente pelos cordoeiros e nele fazem as cordas. Esta capela, como já dissemos, foi matriz d'um pequeno curato do chantre de Lamego, anexo á igreja (abadia) de Numão, que era do mesmo chantre.

5. - Senhora do Amparo, do Azinhate ou Azinhaga, no sítio deste nome, cerca de 1 quilómetro a O. da Vila. Revela muita antiguidade e está hoje em abandono, mas já teve grande festa, feita pelos almocreves.

6. - Santa Bárbara, também antiga e maltratada, a leste da Vila, distante cerca de 400 metros. A esta imagem costumavam pedir bom tempo, pelo que a sua festa era feita pelos cavadores, com procissão, corrida de touros, etc.

7. - Senhora da Aldeia Nova, junto do Castelo, para S. O.; muito antiga e maltratada. Há muito que não tem festa própria. Apenas ali os estudantes festejavam Santa Luzia.

8. - S. Pedro, também muito antiga e já em ruínas e profanada, mas ainda com portas e tecto. Está a leste da Vila, junto da Fonte Nova, o poço coberto que abastece toda a Vila de água potável.  A pobre ermida olha para N. e tem capela-mor, que parece ter sido a primitiva capela, um pequeno arco de granito de volta inteira com as quinas quebradas e ornamentação simples e tem ainda no seu velho retábulo duas lindas colunas de talha antiga com aves e uvas. Teve festa feita pelos moleiros.  Este sítio, posto seja arrabalde, é um dos mais frequentados da Vila pela proximidade da fonte, sobre a qual toda a grande povoação converge em motu constante e fieira interminável. Quando visitámos esta Vila em 1 de setembro de 1881, vindo da Serra da Estrela, onde passámos muito agradavelmente oito dias (de 4 a 12 de agosto) com a Expedição Científica, visitámos também esta fonte.  Era ao cair da tarde e, tendo cruzado todo o nosso país em diferentes direcções e tendo alargado também um pouco mais os nossos passeios até Madrid e Paris, não nos recordamos de ter visto em tão pequeno espaço de tempo tanta gente em fonte alguma!

Todas as 8 capelas mencionadas são públicas e há ainda nesta Vila uma outra. 

9. - De Santa Quitéria, particular, mas com porta franca ao público, na rua de Santa Quitéria, contÍgua a um bom prédio que foi de Jacinto Lopes Tavares, de Carnicães, do concelho de Trancoso, e é hoje dos seus herdeiros, que possuem aqui um bom casal. Era lindíssima; tem ainda bons azulejos e um rico frontal de talha antiga dourada, mas está em completo abandono.

Também houve nesta Vila mais 4 capelas públicas; eram as seguintes:

10. - S. Vicente, a leste da Vila, no sítio do Paço ou do Relento. Em tempos muito remotos foi igreja matriz, não sabemos de que paróquia. 

11. - S. Miguel, a S. O. do campo a que deu o nome, hoje Campo da Feira, ou da Lagoa, na rua denominada também de S. Miguel. Achando-se em ruínas, foi demolida na 2ª metade deste século para alinhamento da dieta rua, hoje a 1ª da Vila.  Tinha galilé ou alpendre e contíguos vários cobertos para os feirantes. A sua festa era feita pelos habitantes da Vila, extra-muros do Castelo. (1)

12. - Senhora da Encarnação. Não há memória dela.

13. - Senhora da Expectação. Também já se perdeu a memória dela, mas a Hist. Eccl. de Lamego, escrita nos fins do último século, a mencionou, bem como a antecedente.

Também supomos que houve nesta Vila uma igreja da Misericórdia com seu hospital, na rua ainda hoje denominada do Hospital, pertencentes á antiquíssima irmandade da Misericórdia, corporação extinta há muitos anos e da qual não restam documentos alguns!

(1) Os habitantes do bairro do Castelo extra-muros, faziam a festa á imagem de Nossa Senhora do Castelo, que estava e está em um nicho sobre a porta voltada a S. 0.


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