AS PEDREIRAS DE XISTO

(In "Portugal Antigo e Moderno", de Pinho Leal, Vol 11)

Fugindo da ribeira para a serra, mencionaremos outra especialidade de ordem muito diversa no termo desta paróquia, mas não menos admirável.

É uma pedreira de xisto, duro como aço, que há no Monte do Poio, cerca de 4 quilómetros a S. E. da Vila, de onde se extraem pedras de todas as grossuras e dimensões à vontade dos montantes (1), umas estreitas e delgadas, de que fazem balaústres para varandas, esteios, etc., outras de enormes proporções, até 8 e mais metros de comprimento e 1 metro e mais de largura, de que fazem tanques, lagares e inclusivamente pontes de uma só pedra, sendo por vezes necessárias 7 e 8 juntas de bois para as arrastarem!

No ribeiro do Vale, por exemplo, há uma ponte bastante espaçosa, cujo tabuleiro é formado por uma só das ditas pedras, denominadas lousas. Tem 1.20m. de largura e 8 de comprimento!

Podem também ver-se e admirar-se as enormes pranchas da dita pedra com que a câmara mandou forrar as paredes e os tectos das prisões no edifício dos novos paços do concelho.

Ficaram as ditas prisões seguríssimas e à prova de fogo, como se fossem couraçadas.

(1) Montantes, pelo menos ao norte do nosso país, são os trabalhadores que habitualmente se ocupam em extrair a pedra das pedreiras, segundo as instruções e medidas que recebem dos mestres das obras; aparelhadores ou canteiros são os que depois trabalham e afeiçoam a pedra; assentantes os que por ultimo colocam e assentam a pedra nos edifícios. Os assentantes são sempre os mestres ou contra-mestres e os oficiais de maior confiança.

Em muitos pontos das margens do Alto Douro, onde predomina o xisto ou lousinho, por vezes se encontram pedreiras d'onde se extrai pedra magnífica para construções, como pode ver-se nos muros de suporte da linha férrea e da estrada marginal, e em algumas pontes desta estrada, nomeadamente na da foz de Mil Lobos ou do rio Temi Lúpus, entre a Folgosa e Bagauste, na margem esquerda do Douro, ponte de um só arco de grande abertura e grande altura, feito do tal xisto.

Também quase todos os lagares do Alto Douro são feitos com tampos do mesmo xisto, alguns dos quais medem 6 a 7 metros de comprimento sobre um metro de largura e 18 a 20 centímetros de espessura, como podem ver-se na quinta do Ferrão, da nobre família Pessanhas, junto da estação daquele nome na linha férrea do Douro, extraídos em Donelo, aldeia da freguesia de Covas; mas todas as pedreiras daquele xisto são muito diferentes.

Não se conhece em todo o Douro outra pedreira igual a esta de Foz Côa, ou da Fraga do Poio.


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